Você consegue imaginar o que a Segunda Guerra Mundial, o fatídico 7×1 da Alemanha no Brasil, a batata-doce frita e a paixão pela Estônia têm em comum? Bom, antes da Aline topar contar a história dela, a gente também não fazia ideia! ʕ•ᴥ•ʔ Confira mais um post da nossa série Brasileiros na Estônia!
A paraense Aline Maidla, 34 anos, mora na Estônia desde 2014, porém sua conexão com o país vem de muito anos antes – antes mesmo dela nascer, para ser mais exato. Ficou curioso? A gente conta nas próximas linhas com mais detalhes essa história incrível. Confira!
Brasileiros na Estônia: Aline e sua conexão hereditária com o país
A Segunda Guerra Mundial
Em 1947, dois anos depois da Segunda Guerra Mundial, o avô de Aline, Sr. Edgar Maidla se viu na complicada situação de ter que deixar sua amada Estônia para trás em busca de segurança e um futuro melhor para sua família. Na época, o país ainda fazia parte da União Soviética e Edgar acabou chegando na Alemanha, onde trabalhou como mecânico em um campo de refugiados.
Na época nenhum país na Europa podia ser considerado um local seguro – ainda mais após seis anos de guerra e todos os seus efeitos colaterais – e foi aí que o futuro da família da Aline começou a se desenhar. “Depois de um tempo trabalhando como mecânico, meu avô conseguiu pegar um navio para sair da Europa e, sem qualquer planejameto, acabou desembarcando no Brasil”, conta.
Falando inglês, alemão, estoniano e russo, não demorou até que Edgar também aprendesse português e começasse a se estabilizar no Brasil. Aline conta que seu avô acabou indo trabalhar em fazendas no interior de São Paulo, e foi lá que conheceu sua avó. Ela era de uma família de refugiados ingleses que chegaram ao Brasil fugindo da Primeira (!!!) Guerra Mundial.
Anos após isso e já com sua família e vidas estruturadas no Brasil, Aline relembra um fato marcante com seu avô.
“Eu lembro em 1991, quando a Estônia se tornou re-independente*, a festa que meu avô e outros estonianos fizeram. Foi uma das primeiras lembranças que eu tenho da bandeira estoniana. Meu avô estava tão feliz que ele pendurou pequenas bandeiras estonianas nos postes das ruas à caminho da festa, e ele cantava em estoniano o caminho inteiro. Meu avô voltou para a Estonia pela primeira vez em 1994, para encontrar o irmão dele pela primeira vez depois de terem se perdido durante a Segunda Guerra”, relembra.
*No ano de 1991, mais precisamente no dia 20 de agosto, a Estônia celebra a restauração de sua independência, deixando oficialmente de fazer parte da União Soviética em uma história que ainda vamos contar por aqui.
Quando a Estônia entrou para a União Europeia, em 2004, Edgar fez questão de que todos os membros da sua família fizessem sua cidadania estoniana, já que o Brasil é permitia a dupla-cidadania. Então foi aí que esse pequeno país báltico cruzou de vez seu caminho com o da Aline.
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Mas e o que o 7×1 tem a ver com isso?
Bom, quem não lembra daquele fatídico 8 de julho de 2014, onde em frente a um Mineirão lotado, a seleção Brasileira de futebol teve sua derrota mais humilhante na história do esporte? Então, para a Aline as lembranças dessa data não são apenas amargas, pois foi exatamente nesse dia que ela desembarcava pela primeira vez em solos estonianos sem imaginar o que o futuro a reservava.
Em 2014, ela trabalhava de aupair na casa de uma família na Irlanda, e viu numa promoção de passagens para a Estônia (aqui a gente se identificou com a vida de intercambista quebrado) a oportunidade de unir o útil ao agradável: passar suas férias de verão conhecendo a terra natal de seu avô. “Consegui um trabalho num hostel local e vim com a cara e a coragem. Era para ficar apenas 3 semanas, porém eu me apaixonei pela cidade de Tallinn e pelo meu atual marido, e como eu já tinha uma ligação hereditária com o país, resolvi ficar por aqui mesmo” conta.
Quando Aline decidiu se mudar, todos falavam que ela iria morrer de frio e que seria muito difícil para uma brasileira “sobreviver” ao inverno estoniano e seus -20 °C de temperatura. Mas ela confessa que essa não foi sua principal procupação, já que o que mais dificultou sua adaptação ao país foi a escuridão.
Essa é uma realidade de todo brasileiro que se muda pra cá. Os dias no inverno são muuuito curtos, tendo em seu ápice, apenas 6 horas diárias de luz natural, o que para nós, vindos de um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza é algo simplesmente inimaginável.
“Além da escuridão, eu senti muita falta das conversas aleatórias na rua. Aqui é cada um no seu quadrado e se você puxa um assunto na fila do mercado, por exemplo, as pessoas te olhavam com surpresa. A língua, apesar de não ser fácil de se aprender, nunca foi um problema pois a maioria de população em Tallinn fala o inglês – com exceção dos mais velhinhos – e a fonética na pronúncia das palavras estonianas, ao meu ver, é muito parecida com o português. É lógico que eu tinha a vantagem de ter um namorado estoniano comigo para me ajudar com a barreira da comunicação, mas por isso nunca considerei essa uma dificuldade na adaptação”, explica.
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Vamos falar do que interessa? E a comida? ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Quando perguntamos para a Aline qual sua comida local favorita, a resposta foi um tanto quanto surpresa pra gente. “Eu gosto muito de batata-doce frita (sweet potato fries) e aqui na Estonia tem muito. É uma coisa que não é tão comum em outros lugares da Europa. Já bebida, eu amo o refrigerante deles que parece com o nosso guaraná /tubaína. O limonaad“, revela.
Já quando o assunto é uma dica de restaurante na cidade, ela não pestanejou em indicar o Kompressor, que tem a melhor – e mais barata – panqueca de Tallinn. Esse também é um dos nossos locais favoritos e sempre levamos os amigos que vem nos visitar pra jantar lá. O famoso Bom, Bonito e Barato, né gente? 😛
O que mais gosta na Estônia
Bom, como vocês puderam perceber durante todas essas linhas, motivos não faltam para a Aline amar e adotar a Estônia como sua segunda casa. Se o inverno é uma época complicada para todos os brasileiros que se mudam pra cá, o verão pode ser tratado como o completo oposto.
“Eu adoro o pequenos festivais de rua durante o verão. O meu favorito é o Kalamaja days. É aquele tipo de “feira” com venda de garagem e comidas, bolos e tortas feitas por pessoas locais. As pessoas estão na rua, sorrindo e sendo muito receptivas. Para mim é o melhor dia do ano. Considero a celebração do início do verão”, indica.
No ano passado também estivemos nesse festival e, como a Aline menciona acima, a vibe é perfeita!
Comunidade de brasileiras na Estônia
Desde que se mudou para a Estônia, por não ser um lugar onde a comunidade brasileira é tão grande, a Aline foi se tornando referência para muitas brasileiras, e as meninas a procuravam para tirar dúvidas e conversar sobre como é a vida no país. Com isso, ela é a fundadora e responsável do grupo no WhatsApp chamado Brasileiras na Estônia.
“A ideia original era reunir as brasileiras e criar um grupo de amizade e troca de ideias por aqui. Mas já nas primeiras semanas ficou claro que muitas meninas estavam passando por dificuldades em sua adaptação ao novo país. Então o grupo acabou se tornando uma fonte de ajuda para todas. Ali a gente compartilha desde dicas de mercado até o informações para retirada do RP (resident permit). Recentemente, o grupo completou 2 anos e conta com 90 meninas de todos os lugares do Brasil”, explica.
Aline hoje é casada com o Hendrik – estoniano que curte muito o Brasil – e mora em Tallinn. O casamento deles, inclusive, foi em terras brasileiras.
E aí, o que achou da história da Aline? Esse mundo dá voltas e muitas vezes nos coloca bem onde deveriamos estar!
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