Na última semana, o TERE Tallinn entrevistou o Excelentíssimo Senhor Roberto Colin, Embaixador do Brasil na Estônia, afim de entender um pouco mais sobre o relacionamento entre os dois países, seu trabalho na Embaixada do Brasil em Tallinn e também na conexão das duas culturas ao longo do seus quatro anos representando nossa pátria no báltico.
A conversa, além de muito rica em informações, traz à tona curiosidades pra lá de interessantes que contamos nas próximas linhas. Aliás, a história de Roberto Colin é ainda mais fantástica e essa está reservada para uma outra publicação que irá ao ar em breve. Esse é o ultimo ano de Roberto Colin como Embaixador do Brasil na Estônia, ano que vem ele continuará seus trabalhos em outro país.
No estilo perguntas e respostas, segue abaixo um trecho da nossa entrevista, e ao final dela você também encontra algumas curiosidades sobre o cargo e dicas para quem sonha em seguir a carreira diplomática no Brasil.
TERE Tallinn entrevista: Roberto Colin, Embaixador do Brasil na Estônia
O senhor assumiu a Embaixada do Brasil em Tallinn em julho de 2016. Como surgiu essa oportunidade?
A Estônia sempre foi um lugar que me chamou a atenção, e minha conexão com o país aconteceu em duas outras ocasiões, antes mesmo de surgir a oportunidade de assumir a Embaixada. A primeira delas foi quando eu ainda criança, tinha 9 anos de idade e comecei a colecionar selos de países. Minha tia me deu uma caixa de selos velhos que pertenciam a minha avó, e um deles me chamou muito a atenção. Era um selinho pequeno com os dizeres Eesti Vabariik, que eu nunca tinha ouvido falar. Foi então quando meu pai explicou que se tratava da Estônia, um país que já fora independente e que, naquela época, fazia parte da União Soviética.
Na segunda oportunidade, eu estive na Estônia enquanto trabalhava pela primeira vez como diplomata na cidade de Moscou, na Rússia, entre os anos de 1989 e 1994. Visitei a Estônia à turismo e me encantei pelo país que, na época, ainda fazia parte da União Soviética.
Anos depois, em 2016, quando estava encerrando minhas atividades como Embaixador na cidade de Pyongyang, na Coréia do Norte, a Estônia surgiu como uma oportunidade real para minha continuidade na carreira, e aqui estou desde julho do mesmo ano.
A Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) tem como uma de suas competências sabatinar os indicados para ocupar o cargo de Embaixador do Brasil em outros países. As perguntas direcionadas aos indicados avaliam conhecimento ou não sobre as atribuições e habilidades que o cargo exige, além de planos para a Embaixada que o canditado irá assumir. Assista ao vídeo da sabatina de Roberto Colin para o cargo de Embaixador na República da Estônia:
A Embaixada do Brasil em Tallinn é a única residente de país latino-americano nos países bálticos. Qual a importância da presença do país nesta região?
O Brasil ainda não tinha presença na região, então estava nos planos das expansões diplomáticas abrir uma embaixada em um dos três países bálticos. A primeira opção foi a Letônia, na capital Riga, por ser o país mais populoso dos Bálticos e a principal economia dentre eles, além da centralidade geográfica em relação à Estônia e Lituânia. Porém, na mesma época a Estônia estava abrindo sua Embaixada no Brasil, portanto isso pesou na lei da reciprocidade.
Hoje, afirmo que mesmo se esse fator não existisse na época, Tallinn continuaria sendo a melhor escolha para o Brasil. Essa foi uma questão que, inclusive, respondi para um dos meus colegas logo depois que assumi. De longe, temos aqui a maior comunidade brasileira dos bálticos, a Estônia possui maior projeção internacional, conta com o Centro de Excelência de Defesa Cibernética da OTAN (NATO Cooperative Cyber Defence Centre), além de toda a inovação tecnológica, algo de grande valia para o futuro do Brasil.
Em 2010, foi assinado Decreto que instituiu a Embaixada residente em Talin, que foi aberta em 2011, estando plenamente operacional em 2012.
Em 2014 a Estônia abriu uma Embaixada no Brasil, porém foi fechada em 2016. Por que o Brasil tem uma embaixada na Estônia e a Estônia não possui mais a embaixada no Brasil?
O motivo foi mais uma questão orçamentária da Estônia. Não é barato você manter a estrutura de uma Embaixada em outro país e, na época, o principal interesse – e é até hoje – do país era a manutenção da União Europeia, uma vez que os boatos do Brexit começavam a se tornar cada vez mais reais.
Dado isso, o governo da Estônia começou a priorizar mais suas embaixadas no Velho Continente e, suas instalações na América Latina foram encerradas. Atualmente existem planos de reabertura da Embaixada da Estônia no Brasil, mas ainda sem um prazo definido.
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Na relação Brasil – Estônia, quais são as áreas vantajosas para as partes? O que os dois países têm a oferecer um ao outro?
A desburocratização dos serviços públicos é com toda certeza o principal exemplo que o Brasil pode adotar da Estônia. O país é o mais avançado tecnologicamente dos bálticos, e essa digitalização do governo é sem dúvida o caminho natural do futuro.
Tivemos recentemente um ótimo exemplo com o aplicativo criado pelo Governo Federal para o pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia no Brasil. Foi um projeto feito em pouquíssimo tempo e que ajudou milhões de brasileiros a agilizar o processo de recebimento. O aplicativo não decorre da cooperação com a Estônia, mas demonstra que o país já alcançou um alto nível tecnológico, que tem condições de avançar na área de desburocratização dos serviços públicos, e que muito se beneficiará da cooperação com a Estônia.
O desenvolvimento dos estudos da Estônia na defesa e segurança cibernética também é algo que nos interessa e muito. Inclusive, já aconteceram alguns intercâmbios e visitas de profissionais em ambos os países para discutir os avanços nessa área.
Em contrapartida, o Brasil é um país enorme com oportunidades e possibilidades inimagináveis que a Estônia pode explorar. Nosso pioneirismo na área cibernética em larga escala é um ótimo ponto, como, por exemplo, a declaração de imposto de renda e o sistema de votos por meio das urnas eletrônicas. Fora toda a riqueza natural pela qual nosso país é conhecido no mundo todo. Não podemos subestimar o Brasil, nem o seu mercado.
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Como é a procura dos brasileiros pela Embaixada? Isso aumentou ao longo dos anos?
Com o aumento da população brasileira na Estônia, naturalmente a procura pelos serviços oferecidos pela embaixada e setor consular tiveram um aumento significativo. Em sua grande parte, a procura é feita para atualização e emissão de documentos. Nas última eleição também já foi possível votar aqui na embaixada. Além disso, temos procura de europeus que precisam do visto para ir ao Brasil ou alguma ajuda consular para regularizar sua ida ao país.
Segundo o setor consular, os principais serviços procurados pelos brasileiros são: renovação de passaporte, certidão consular de estado civil, procurações, transferência de título de eleitor, registro de nascimento e registro de casamento.
Quais os principais desafios de exercer o cargo de Embaixador na Estônia?
Todo país tem desafios no sentido de dificuldade, mas eu vejo que isso não existe aqui. O que vejo como um desafio antigo que continua até hoje, mas que estamos superando com o tempo, é o de mostrar para o Brasil que a Estônia existe, e o que ela tem a oferecer.
Em contrapartida, é também mostrar aos estonianos em que medida o Brasil pode ser interessante para eles quando se trata de negócios e cultura fora do estereótipo pelo qual o Brasil já é conhecido no exterior. Em suma, nosso principal trabalho aqui é desfazer esse desconhecimento mútuo.
Qual legado você quer deixar na embaixada e como você gostaria que acontecesse e evoluísse a relação entre os dois países?
O compromisso que assumi desde o meu primeiro dia aqui – e manterei até o último – é esse de fazer com que essa ponte entre Brasil e Estônia seja cada vez mais fortificada. Seja por meio da cultura, tecnologia ou negócios. Não é uma tarefa fácil, porém não deixa de ser prazerosa.
Percebi que nos últimos quatro anos esses laços se fortaleceram, e podemos ver isso no crescimento da comunidade brasileira no país e também nos investimentos feitos pelas empresas estonianas no Brasil. Nosso país é uma potência latino-americana, temos muito não só a oferecer para a comunidade europeia, mas como também para aprender com eles.
O ano de 2019 foi algo como extraordinário no que se diz respeito a essa relação. Nunca na história houve uma presença tão importante de delegações da área educacional, de negócios, federação de indústrias, governos de estado e tudo que se pode imaginar. O Brasil voltou seus olhos para o país báltico, atentos às oportunidades aqui oferecidas.
Em 2020 nossa agenda estava ainda mais movimentada, mas tivemos que postergar alguns desses cronogramas por conta da pandemia do coronavíris. Porém, com certeza está em nossos planos continuar esse estreitamento das relações entre os dois países. O trabalho está apenas começando.
Perguntas e respostas sobre a vida diplomática
Já que estamos no assunto, que tal entender alguns pontos sobre a vida diplomática?
Qual a diferença entre Embaixada e Consulado? A embaixada lida com as relações entre dois países, enquanto o consulado trata das relações entre o país e a comunidade.
Por exemplo, a embaixada trata de assuntos envolvendo negociações políticas, desenvolvimento econômico e cultural, informações oficiais, entre outros. Já o consulado trata de assuntos como vistos, emissão de documentos, entre outros. No caso a Embaixada do Brasil em Tallinn possui um setor consular, que lida com os assuntos de origem do consulado.
Cada país tem apenas uma embaixada em cada nação parceira, sempre na capital local. Porém, cada país pode ter diversos consulados na nação estrangeira.
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Como é o processo de indicação de um Embaixador? A indicação de um Embaixador passa por algumas etapas e envolve o Presidente da República, o Senado e o Ministério das Relações Exteriores. Leia mais aqui.
O Embaixador pode escolher o destino onde irá atuar? O local de atuação de um Embaixador pode ser através de uma oferta ou também por solicitação (mediante a aprovação) de um determinado lugar.
Qual o tempo de atuação de um Embaixador em uma embaixada? A média de permanência nos países é de dois a três anos, sendo cinco anos o período máximo de permanência.
Qual o processo para seguir carreira diplomática? Você pode ler sobre o assunto com detalhes aqui.
Nós perguntamos para o Embaixador Roberto Colin quais cursos são indicados para quem deseja seguir carreira, e sua resposta foi com destaque, principalmente, para o curso de Relações Internacionais, mas também o de Direito. Sobre idiomas, é preciso saber inglês, espanhol e francês.
Outros links úteis sobre o tema: clique aqui e aqui.
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