Você já se imaginou chegando em um país completamente novo, sem falar o idioma local – e qualquer outro idioma além do português – e conseguir montar a maior competição de capoeira dos países Bálticos? E detalhe, licenciado pelo Comitê Olímpico Estoniano? (!!!)

Bom, essa é só uma parte da história do Claudio Santos, 41, de Contagem (MG). Ele mudou para a Estônia em 2015, e hoje ajuda a popularizar no país o que talvez é o esporte mais enraizado com nossa cultura: a Capoeira!

A mudança 

Conversando com Claudio sobre os motivos que o trouxeram para terras estonianas, ele explica que o principal deles foi a necessidade de cuidar de seus sogros. “Eu e minha esposa, que é estoniana, nos mudamos para a Estônia em 2015 para ajudar a cuidar dos pais dela. Eu já morava em Portugal desde 2003, então a adaptação não foi tão difícil”, relembra,

Porém, por mais que adaptação fora do Brasil não era um grande problema, o idioma no país novo foi um desafio. “Eu falava apenas português, mas ao invés de encarar isso como uma dificuldade, fiz desse mais um desafio a ser superado e, graças a esse esforço, pude começar a trilhar meu caminho por aqui”, conta.

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A Capoeira na Estônia

A Capoeira é, muito provavelmente, a arte marcial com maior identificação da nossa história. Não só pela sua origem, mas também por trazer consigo uma bagagem cultural imensa no que diz respeito a história do Brasil.

Curiosidade: você sabia que a capoeira é a única arte marcial do mundo que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu como um valor cultural mundial? Isso significa, entre outras coisas, que as tradições da capoeira devem ser preservadas e inalteradas.

Durante seu tempo em Portugal, o Professor Caldeira – como Claudio é conhecido – já dava aulas de capoeira e, ao se mudar para Estônia, continuou a prática do esporte e também ministrando algumas aulas particulares. 

Foto: Arquivo Arte do Brasil

“Quando ainda estávamos em Portugal nós começamos a fazer uma pesquisa de mercado e sobre como poderíamos trazer as aulas para a Estônia, além de pesquisar sobre os registros, licenças e tudo mais. O processo foi muito rápido e assim que cheguei, lá em 2015, já comecei a lecionar em centros culturais”, explica.

Foi quando em março de 2020, a escola Arte do Brasil foi oficialmente aberta em uma parceria entre o Professor Caldeira (Brasil/Estônia) e a Professora Irena Galkina (Ucrânia). 

“A escola é, antes de tudo, uma família, onde todo o trabalho é realizado de forma conjunta e respeitosa numa parceria entre professores e alunos. Começamos lá atrás com 5 alunos e hoje já contamos com mais de 200. O objetivo da Arte do Brasil é ensinar a capoeira e a cultura brasileira sempre levando em consideração a mentalidade e diferenças entre os países, bem como os diferentes pontos de vista entre os envolvidos, sempre respeitando as tradições e rituais da capoeira.”

Claudio abriu a Arte do Brasil, escola de capoeira na Estônia, e que hoje possui também uma filial em Kiev, na Ucrânia. Porém, mais uma curiosidade: a maioria dos seus alunos por aqui são russos.

Foto: Arquivo Arte do Brasil

Você sabia? Por ter feito parte da União Soviética até meados de 1991, a comunidade russa ainda é muito grande na Estônia, representando 25% da população. Nas ruas, é muito comum ouvir pessoas se comunicando em russo e existem até mesmo bairros povoados, quase que em sua totalidade, por russos.

Porém, engana-se quem acha que a Capoeira só teve início na Estônia com a chegada de Claudio. Ele mesmo conta que a arte aterrisou por aqui algum tempo atrás, bem antes dele começar a considerar sua vinda.

“A capoeira tem uma história de 20 anos ou mais no país. Outros professores já estiveram por aqui, porém por diversos fatores culturais, geográficos, linguísticos e até mesmo climáticos acabaram não se adaptando. Isso dificultou um pouco no início, pois havia muita desconfiança dos locais com relação às experiências passadas, porém conseguimos contornar tudo isso com nossa bagagem e criar laços com a comunidade local.”

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A maior competição de capoeira dos países bálticos

Além da parte esportiva, o reconhecimento também veio de fora da arena de treinamentos, com diversas entrevistas em programas de rádio e TV sobre o esporte no país. A escola também é um membro ativo da Federação de Capoeira da Estônia e da Federação Mundial de Capoeira (WCF).

Todo esse reconhecimento trouxe o licenciamento da academia pelo Comitê Olímpico Estoniano, o que somou para a escola ainda mais prestígio na região e para o Tallinn Cup, o maior festival de capoeira do Báltico, organizado pela escola Arte do Brasil Estônia.

O Tallinn Cup consite em três dias de treinamento, performances, comunicação e cerimônia de troca de cordão. Os alunos da escola e de diferentes academias nos países vizinhos se enfrentam sob os olhares atentos da WCFOs costumes e tradições da capoeira brasileira são respeitados, e vários mestres do exterior são convidados para o formato, o que torna o festival original, autêntico e inesquecível.

Claudio sempre trabalhou em conjunto com sua esposa, Marina. Enquanto ele cuidava dos treinamentos, era ela a responsável por ajudar na divulgação do esporte pela cidade.

Foto: Claudio e Marina, Arquivo Pessoal

“A Marina tem formação e marketing e gestão empresarial, o que nos ajudou muito a montar nossa credibilidade e fomentar o interesse do público em nosso trabalho. Usamos toda a tecnologia disponível para divulgar a capoeira na Estônia”, afirma.

O que mais gosta em Tallinn e dicas para quem vem ao país

Com uma experiência tão bacana como essa, não poderíamos deixar de perguntar também algumas dicas que o Claudio tem para compartilhar com o pessoal que sonha em vir ou está chegando na Estônia. Mas não deu outra, a Old Town continua sendo a queridinha do professor. Confere o que ele disse:

Para quem chega ao país, eu recomendo com toda certeza uma primeira visita à Old Town. O lugar é impressionante e a conservação é fantástica. Por lá também estão diversos bares e restaurantes deliciosos, definitivamente éperfeito para aproveitar algumas horas do dia. É o meu lugar favorito!

 

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Outra coisa que me deixa muito feliz em Tallinn é ver como a máquina pública funciona à favor da população. Repartições públicas, hospitais, segurança… Enfim, tudo é favorável para ajudar na adaptação. Pra quem chega do Brasil – seja para ficar um tempo ou morar definitivamente – minha dica é apenas para respeitar as diferenças! O povo estoniano é muito diferente do nosso, porém muito receptivo. Ser cordial e respeitoso é a chave para o sucesso por aqui.

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