Antes de mais nada, pode ficar tranquilo que o nome da série está certo sim. Estamos contando aqui algumas histórias de brasileiros que fizeram da Estônia sua nova casa, mas você já parou para pensar que existem pessoas que fizeram o caminho inverso, ou seja, estonianos no Brasil?
Conversamos com a Marili Milt, estoniana de nascimento e brasileira de coração, já que hoje faz da nossa amada terrinha seu lar. Ficou curioso para ver quais as impressões dela sobre o Brasil? Confere só!
Por que o Brasil?
Marili, 31, é natural da cidade de Keila, que assim como Tallinn, faz parte do condado de Harju. Ela viveu na Estônia até seus 16 anos e antes de se mudar para o Brasil, também morou em outros países.
Em 2005, se mudou com sua família para Bruxelas, na Bélgica, e nos anos seguintes também viveu em outros lugares. De 2008 a 2012 cursou sua graduação na Inglaterra (como parte da grade do curso viveu de 2010-2011 na França e Espanha) e em 2012 retornou a Bélgica para fazer seu mestrado. Em 2014, ela então foi para o Brasil.
Ela conta que a decisão de se mudar do seu país veio pela necessidade de fazer algo por ela, ter uma experiência totalmente nova, uma aventura. “Eu tinha terminado meu mestrado na Bélgica e sentia que minhas ‘obrigações’ como filha já haviam se encerrado naquele momento. Escolhi três países que me chamavam a atenção e comecei a procurar emprego neles”, relembra.
E os três países escolhidos por ela foram: Portugal, Austrália e Brasil – bom, podemos ver que, pelo menos ao que parece, ela procurava por um lugar com um clima um pouquinho mais quente do que estava habituada em sua terra natal. ?
“Em Portugal os salários eram muito baixos, porém na Austrália e Brasil me pediram para comparecer pessoalmente nas entrevistas, o que na época era inviável. Então, ao invés de procurar um novo trabalho, comecei a considerar a ideia de continuar meus estudos em outro país.”
Ainda com a mesma lista em mente, ela conta os motivos definitivos que a fizeram optar pelo Brasil.
Os estudos na Austrália eram muito caros e Portugal começou a parecer ser muito perto da minha casa. Eu precisava de uma mudança maior e então o Brasil começou a ganhar mais força na minha escolha, além disso eu já tinha visitado o país a turismo uma vez e gostado bastante. O ano era 2014 e só se falava no país por conta da Copa do Mundo, então depois de muita busca e diversos contatos com faculdades pelo país, fui aceita na Universidade Positivo em Curitiba, para o MBA de Comércio Exterior e Negócios Internacionais, e comecei a me preparar para a mudança.
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A adaptação em terras brasileiras
Algumas vezes já comentamos por aqui sobre as dificuldades e diferenças na adaptação em uma mudança de país, ainda mais se tratando de culturas tão distintas como é o caso de Brasil e Estônia. Bom, como devem imaginar essas diferenças e dificuldades não se restringem apenas a uma das partes, e encarar um país gigante como o nosso – e sozinha – não foi uma das tarefas mais fáceis para Marili. “Eu não falava muito português na época, até tinha uma base do idioma, mas ele não era o suficiente. Estava no início da faculdade e tive a sorte de conhecer colegas de sala e professores muito prestativos que me ajudaram na adaptação. “
Curitiba é considerada por muitos uma cidade modelo no Brasil, e seu transporte público já foi eleito um dos melhores do país. Mas no início, para ela não parecia tão fácil. “Eu achava o transporte em Curitiba meio confuso – principalmente os ônibus amarelos. As distâncias enormes entre as cidades e estados era algo estranho para mim, o Brasil é um país muito grande.”
De fato, em um breve comparativo aqui já dá pra ter uma boa ideia dessa diferença de dimensões. Apenas o Estado do Paraná possui uma área de 199.315 km², mais de quatro vezes o tamanho da Estônia inteira, que possui cerca de 45.227 km² de extensão.
Se compararmos as duas capitais, Tallinn (que foi a última cidade que Marili morou antes de se mudar) e Curitiba, a diferença de tamanho é praticamente a mesma, 159,3 km² da capital estoniana, contra 432 km² da capital paranaense (!!!). E se fizermos essa comparação com Keila, cidade onde ela passou parte da sua infância, a diferença é ainda maior com seus modestos 11,25 km² de área territorial.
Agosto é o final do inverno no Brasil e como sabemos, Curitiba é uma das cidades mais frias do país. Porém, isso não deve ser um problema para uma Estoniana, certo? Errado! “A falta de aquecimento nas casas era muito difícil para mim porque sempre passava frio, dentro e fora da casa. Nós sempre comentamos sobre isso quando conversamos com nossos amigos, o Brasil é um país tropical, preparado para o calor.”
E o último ponto que ela ressaltou foi sobre a burocracia no Brasil. “Um monte de cartórios, tem que autenticar tudo, muita papelada.”
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As principais diferenças entre brasileiros e estonianos
Atualmente morando com seu marido João e filho Levi na cidade de Guaíra, no Paraná, ela conta sobre algumas diferenças que notou entre a cultura de dois povos e países tão distintos.
“Os brasileiros são muito mais sociavéis e abertos do que os estonianos. Os estonianos não sabem muito bem ter uma conversa casual ou bater um papo, coisa que vocês são ótimos. Também vejo que os brasileiros são muito mais apegados à família do que nós, faz parte da sua cultura ser mais prestativo e solidário.”
Outro ponto que nos chamou a atenção em sua fala foi: “estonianos só prometem o que realmente sabem que vão entregar. Já os brasileiros, podemos dizer que nem sempre é assim.” – Ops, desculpa aí Marili, juro que não é por mal. ?
Ela ainda dá uma dica muito legal para quem se mudou para a Estônia recentemente – ou pretende vir em breve.
“Jamais apareça na casa de um estoniano sem avisar antes. Hahaha. Demora um pouco até que sintamos intimidade a ponto de convidar alguém para nos visitar em casa, mas quando o fazemos pode ter certeza que é porque gostamos muito de você. Mas atenção, sempre chegue na hora marcada e tire os sapatos na entrada.”
Então, sabe aquela visita surpresa pra filar o almoço de domingo? Esquece. Inclusive, quando perguntei sobre os pratos favoritos dela em cada uma das culinárias típicas, devo dizer que nós ganhamos em cheio (sem clubismo aqui), mas enquanto o prato estoniano foi representado pelo Tatrapuder – como se fosse um prato de cereais cozidos, muito comum na Rússia e países báticos.
Nosso Brasilzão foi representado pelo famoso Arroz, feijão, carne, farofa e salada… É, acho que temos um campeão. 😛
Justiça seja feita, ela também menciona as panquecas do Kompressor como uma dica gastronômica aos que visitam Tallinn pela primeira vez, e aqui nós reforçamos a indicação, pois a comida do local é simplesmente fantástica. *Fun-fact sobre o Tere Tallinn: esse foi o primeiro restaurante que saímos para comer quando chegamos.*
Marili e o Youtube
Você sabia que a Marili tem um canal no Youtube, o Europeia no Brasil? Nós a conhecemos por meio das aulas de estoniano que ela dá por lá – acreditem, encontrar uma professora do idioma e que fale português é uma chance única. Vocês precisam conhecer:
Porém, ela conta que a ideia inicial não era essa. “Na verdade eu criei meu canal para compartilhar minhas impressões sobre o Brasil e seu povo, contando um pouco sobre as diferenças culturais entre outros aspectos. Porém, acabei recebendo muitos comentários e pedidos para que falasse um pouco mais sobre meu país de origem e o idioma, então comecei a abordar isso também.”
E para quem sonha em se mudar para o país báltico ou utilizar alguns serviços do país, Marili está prestando consultoria sobre questões em relação a Estônia, como e-Residency, compra de imóveis, abertura de conta bancária, entre outros. Quem tiver interesse pode entrar em contato pelo e-mail marili.milt@gmail.com.
Nós também fizemos uma LIVE lá no @teretallinn com a Marili, você pode conferir aqui.
E aí, gostou de conhecer um pouco da história de um estoniano no Brasil? Se você tiver mais alguma indicação, manda pra gente no e-mail contato@wordpress-1169252-4087660.cloudwaysapps.com.
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